Quando deixamos de viver para recordar
Não sei o que dirias se estivesses aqui comigo neste momento. Para dizer a verdade, já nem tão pouco imagino com nitidez o teu rosto, a tua voz e os teus gestos. Começo a esquecer-me de uma pequena parte dos momentos que partilhamos e deixo de prever os actos que tomarias para fazer frente a certas e determinadas situações.
O tempo passou, sei-o bem, mas isso já não justifica absolutamente nada. Tantas foram as vezes em que me disseram que ele curava tudo, e enganaram-se. Os dias correram mas, em contrapartida, tu continuaste ausente. Nem mesmo o hábito, aquele que tomou a melhor parte, conseguiu fazer com que as feridas fossem fechadas e deixasse de existir um lugar teu na minha vida.
Fiz algo por ti, fizeste tanto por mim, fizemos muito por nós. Hoje tudo isto se resume a recordações que se sintetizam em pouco: imagens de momentos que nem deveriam ter sido retratados, dada a força que tiveram para serem vividos; cartas que nem deveriam ter sido escritas, tendo em conta a grandiosidade dos sentimentos transmitidos pelas suas palavras; memórias que nem deveriam ter sido construídas de tão importantes os acontecimentos que as contêm. Passamos a recordar quando deixamos de viver. Agora sei que nem mesmo as recordações chegam para que eu consiga completar aquilo que há muito se deixa inacabado.
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