Coisas do tempo

O tic-tac do relógio fazia-se ouvir silenciosamente por entre uma imensidão de melodias. Vinte e duas horas e vinte e três minutos, marcava ele.
Nós, comuns mortais, permanecíamos ali, no lugar de sempre. Apenas nos deixávamos navegar no nosso barco à vela, o tempo, e ele que nos levasse para onde quisesse. As conversas eram alimentadas pelos mais banais temas, os sorrisos nasciam e fluíam naturalmente por entre palavras normais, comuns, palavras vindas de toda uma imensidão de letras. Não eram estas em si que se realçavam, não eram os temas em si que se distinguiam, o segredo estava na forma como se pronunciava cada sílaba, cada vocábulo e isso sim, isso era o mais importante.
As vozes deixavam-se ouvir, o televisor não se cansava de proferir algo que viesse ao nosso encontro, simples movimentos se realçavam pelo som que faziam fluir, e ele lá estava, silencioso mas não parado, silencioso mas não morto. Os seus ponteiros marcavam cada segundo, cada minuto e cada hora passada, sem que qualquer um de nós se desse conta disso. Afinal, éramos simples navegantes, nada mais.
A culpa não morre solteira, já alguém o dizia. A culpa jamais fora do relógio e a culpa jamais fora do tempo, pois estes apenas se limitaram a andar de mãos dadas, como sempre fizeram neste mundo de existências. A culpa fora daquele que fez com que os melhores momentos da vida de um comum mortal se tornassem nos mais curtos, nos mais passageiros, momentos esses que não necessitaram de muitas regalias para serem vividos, apenas da melhor companhia que a união do tempo e do relógio nos podem oferecer.

A vocês. Aos meus amigos de Ribeirão.

As mais simples ideias fluem de banais conversas. Muito obrigado pela ideia Simão.

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