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Sabes o que é olhar para alguém e sentir, de uma forma inquestionavelmente transparente, aquele orgulho desmedido? Sabes o que é descobrir em alguém uma solução para o problema mais difícil de resolver? Sabes o que é encontrar em alguém o conforto, o equilíbrio e as forças, para poderes seguir em frente? Sabes o que é viver atormentado com o facto de vires a desiludir alguém? Sabes o que é perder esse alguém?
Já se passaram quatros anos, mas se permitir que o meu pensamento vagueie, ainda consigo encontrar em mim aquela dor. É como estar fechada num quarto escuro, abandonada e sem saber o que fazer. Acho que as coisas não poderiam acontecer de uma maneira diferente, porque a minha força apenas me permite não pensar no assunto, em vez de o ultrapassar.
Além do mais, seria estranhamente ingrato e anti-natural da minha parte não viver os acontecimentos com uma certa dose do vazio. Foste, sem sombra de dúvida, a pessoa mais importante da minha vida, mesmo considerando o facto de ainda me restar conhecer muita gente. No entanto, é impensável esquecer que sempre me guiaste e ajudaste, desmesurada e incondicionalmente, sem seres obrigada a feitos tão heróicos.
Lembras-te de uma noite em que eu estava com febre e me colocaste, num biberão, um chã bem quente de camomila, me deste o xarope, e esperaste até eu o beber e adormecer? De quando me ofereceste aquele que foi o meu último brinquedo, assegurando que ainda tinha idade para brincar, quando todos afirmavam o contrário? De quando disseste que eu era uma chata por andar sempre atrás de ti? De todas a vezes em que fugi de casa só para poder falar contigo? Das nossas longas viagens para a igreja, em que gastávamos o dobro do tempo, apenas porque não nos calávamos durante todo o caminho? Das horas que passaste a ensinar-me a cozinhar? De me surpreenderes com questões femininas, quando nem a minha mãe ainda o tinha feito? De me dizeres que gostarias de conhecer os meus filhos? Pois, bem, nesse dia exprimi a certeza de que tal aconteceria, mas falhei. No entanto, é por tudo isto que hoje sou um pouco de ti: aquele pouco de que tanto me orgulho.
Mas, sabes, viver o teu aniversário sem estares aqui é algo ao qual ainda não me habituei: eu, que sou uma pessoa de hábitos. Irónico, não é? Mas, no final de contas, não o posso evitar. Resta-me vivê-lo com uma alegria vinda de lado nenhum e com aquele sorriso que deixaste ficar para trás, em cada um dos momentos em que demos as mãos e sorrimos da forma mais feliz que algum dia conheci.
Já se passaram quatros anos, mas se permitir que o meu pensamento vagueie, ainda consigo encontrar em mim aquela dor. É como estar fechada num quarto escuro, abandonada e sem saber o que fazer. Acho que as coisas não poderiam acontecer de uma maneira diferente, porque a minha força apenas me permite não pensar no assunto, em vez de o ultrapassar.
Além do mais, seria estranhamente ingrato e anti-natural da minha parte não viver os acontecimentos com uma certa dose do vazio. Foste, sem sombra de dúvida, a pessoa mais importante da minha vida, mesmo considerando o facto de ainda me restar conhecer muita gente. No entanto, é impensável esquecer que sempre me guiaste e ajudaste, desmesurada e incondicionalmente, sem seres obrigada a feitos tão heróicos.
Lembras-te de uma noite em que eu estava com febre e me colocaste, num biberão, um chã bem quente de camomila, me deste o xarope, e esperaste até eu o beber e adormecer? De quando me ofereceste aquele que foi o meu último brinquedo, assegurando que ainda tinha idade para brincar, quando todos afirmavam o contrário? De quando disseste que eu era uma chata por andar sempre atrás de ti? De todas a vezes em que fugi de casa só para poder falar contigo? Das nossas longas viagens para a igreja, em que gastávamos o dobro do tempo, apenas porque não nos calávamos durante todo o caminho? Das horas que passaste a ensinar-me a cozinhar? De me surpreenderes com questões femininas, quando nem a minha mãe ainda o tinha feito? De me dizeres que gostarias de conhecer os meus filhos? Pois, bem, nesse dia exprimi a certeza de que tal aconteceria, mas falhei. No entanto, é por tudo isto que hoje sou um pouco de ti: aquele pouco de que tanto me orgulho.
Mas, sabes, viver o teu aniversário sem estares aqui é algo ao qual ainda não me habituei: eu, que sou uma pessoa de hábitos. Irónico, não é? Mas, no final de contas, não o posso evitar. Resta-me vivê-lo com uma alegria vinda de lado nenhum e com aquele sorriso que deixaste ficar para trás, em cada um dos momentos em que demos as mãos e sorrimos da forma mais feliz que algum dia conheci.
P. S.- Talvez hoje pudesse ter conhecido os teus cabelos brancos.
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